Eu também queria pensar que o feminismo é coisa de quem não tem o que fazer. Sem a consciência dos meus direitos, pelo menos teria visto como normal a atitude do meu tio.
Quando eu era criança, ele me proibiu de pular amarelinha em frente de casa, só porque meu amigo era um menino e “meninas não podem brincar com meninos” — o sexismo é combatido pelo feminismo.
Quantas vezes senti vontade de me enturmar, jogar bola ou brincar de outras coisas diferentes de boneca, fogão e panelinhas?
Sem o feminismo, eu jamais teria percebido que fui discriminada pelo fato de ser mulher, em alguns momentos na vida pessoal e profissional. Olhares hostis, julgamentos, insinuações preconceituosas, fofocas etc.
Quando escrevia para o meu jornal impresso, certa vez um homem me perguntou se eu era mesmo a autora dos artigos. É comum que as pessoas olhem para a sua aparência e te julguem incapaz de determinada atividade.
Inclusive, perdi a chance de assessorar um político porque, afinal, as pessoas iam pensar que a gente tinha um caso. Veja só. O que eu sei hoje me fez enxergar o que uma não-feminista não enxergaria. E a verdade dói.
Sem o feminismo, eu acharia normal o fato de uma mulher ser obrigada a usar um pano para cobrir todas as partes do corpo, incluindo o rosto, e não poder participar de absolutamente nenhum evento social, enquanto o homem tem o direito de ir e vir, além de poder se vestir como quiser.
Sem o feminismo, eu me vestiria sempre como uma mulher recatada dos anos 20. Afinal, a mulher tem que se dar aos respeito, né?
Eu seria muito mais feliz se aceitasse o fato de que homens casados podem fazer amizades normalmente, trocar ideias e olhar livremente para os lados sem medo de acusações, enquanto mulheres casadas não podem fazer o mesmo por diversos motivos que não cabem aqui.
Eu jamais deveria ter conhecido o movimento das sufragistas e a enorme rebelião organizada por mulheres maravilhosas que conquistaram o direito que temos hoje, como ser ouvida, poder votar nas eleições, participar da política e na tomada de decisões. Sem conhecer o passado que fez a história, seria muito mais fácil não ceder aos encantos do feminismo.
Eu adoraria não saber que o feminismo é apenas a ideia de que mulher também é gente. Feminismo não é odiar os homens. É lutar contra o patriarcado, o que é bem diferente. É a igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
Mulheres. Amélias. Oprimidas. Submissas. Omissas.
Livres, nunca. Felizes, talvez.
Monique Gomes é jornalista freelancer certificada em Marketing de Conteúdo, feminista, cinéfila e livre de glúten.
A minha infância e adolencência foi pautada pela mesma idéia que menina não poderia bincar com menino. Hoje acho isso um absurdo! A superação não é plena, deixa marcas profundas ( a timidez, a falta de naturalidade para conviver com o sexo oposto e parece até que se ouve uma vozinha no subconsciente que estamos praticando algo errado).
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Sábias palavras, Zélia. Deixa marcas, mesmo, pq lembro pouca coisa da minha infância e isso que aconteceu nunca esqueci. Beijo
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