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“É muito azar do nego, maluco!”

O Programa As Garras da Patrulha, exibido pela TV Diário, tem um estilo muito próprio de fazer humor. Sempre com muita sagacidade, originalidade, esbanjando a identidade e o regionalismo do povo cearense, e, sobretudo, simplicidade: os bonecos são feitos de pano, os atores geralmente não aparecem e o cenário é artesanal.

Entre os vários personagens do Programa, um em especial se destaca por ser um transgressor da lei que vive com o pé na cadeia. Francisco da Silva, conhecido como Tizil, é um meliante que só se dá mal em todos os delitos que pratica.

A malandragem contrasta com a ingenuidade e ele usa um vocabulário único, quase musical. O nome do quadro é Rabo de Foguete e os episódios deixam explícito que o ‘crime não compensa’.

Enquanto Tizil apronta pelas ruas de Fortaleza, o apresentador ‘Marcelo Revende’ vai interagindo com o telespectador durante as cenas e muitas vezes com o próprio Tizil em tempo real…

Quando o meliante tentou assaltar por engano um grupo de ladrões que estavam se organizando para iniciar um arrastão, o apresentador relatou que “peia pra dez, Tizil comeu sozinho…” – linguagens que só um cearense é capaz de entender.

Para completar a maré de azar do personagem, nesse episódio ele foi atropelado pela única viatura do Honda que trafegava naquele dia, em plena greve dos policiais.

ery soares tizilDiversos são os delitos cometidos por Tizil. Ele já “merendou” em uma lanchonete e saiu sem pagar, planejou a explosão de um caixa eletrônico, roubou um colchão que secava na calçada da vizinha e até um cavalo.

“Pra azar de Tizil, o cavalo era tão ensinado que sabia que tava levando um meliante no seu espinhaço, e por isso ele seguiu no caminho da delegacia…e rebolou Tizil na mesa do delegado…”, conta o apresentador Marcelo Revende.

O final é sempre trágico. Tizil acaba em uma enfermaria de hospital antes de seguir para a cadeia. A redação das histórias é feita por Ery Soares, o humorista que dá vida ao boneco (foto).

A camaradagem entre os presidiários é costumeiramente retratada. Certa vez, quando Tizil saiu do presídio, um dos colegas de quarto, com a certeza que o veria novamente, soltou essa: “Tizil, chapa, meu irmão, quando tu voltar, passa no sinal e compra uma raquete daquelas de matar muriçoca pra gente!”, no que ele respondeu: “Só uma dá?”.

Não é difícil imaginar o motivo do sucesso do personagem Tizil. Ele é uma figura real, popular. Ele existe, está nas ruas, convivendo entre nós. O problema é que o Tizil da realidade não se dá mal como o da ficção. No mundo real as coisas são bem diferentes. A impunidade e o falso paternalismo de soltar quem deveria cumprir pena, são fatos vergonhosos para nós, brasileiros.