A sensação piora quando penso que, talvez, pessoas próximas a mim agiriam de forma parecida pelo fato de apoiarem com garras e dentes um presidente que posa sorridente ao lado do sósia de Hitler para ser fotografado.
Um presidente que disse que o holocausto deveria ser perdoado. Um presidente cujo ex-secretário de Cultura fez um pronunciamento reproduzindo falas, ambientação e postura copiadas do político nazista Joseph Goebbels.
Um presidente que não apenas admira, mas homenageia torturador.
Um presidente que recebeu, com orgulho, a deputada alemã neta do ministro das Finanças de Hitler, homem que liderou a apreensão dos bens dos judeus enviados para extermínio durante a ditadura do Partido Nazista.
Um presidente cujo assessor especial foi réu por fazer um gesto de white power em uma sessão do Senado.
Um presidente que, junto com a equipe, debochadamente apareceu bebendo leite puro em uma live, sinalizando mais um gesto comum entre os supremacistas brancos.
Um completo idiota, mas um idiota com muitos seguidores. Liberdade de expressão é uma coisa, apologia ao crime é outra. Muita gente não faz a menor ideia da diferença entre ambos.
— a frase de Bertolt Brecht é a pergunta que não quer calar.
Em um grupo de comunicação instantânea no qual participo, existe um garoto que sofre de ansiedade/depressão. É de conhecimento de todos que ele já teve pensamentos suicidas e, inclusive, tentou se matar uma vez (ou mais).
Diante de uma crise de pânico, ele perguntou ao grupo se fazia mal tomar três comprimidos de Diazepan. Contou que começou a surtar e a gritar depois que a namorada viajou. Estava apavorado, se sentindo sozinho.
Comentei que é perigoso tomar muitos comprimidos de uma vez, que o tratamento pra ansiedade deve ser contínuo, com medicação prescrita pelo médico.
Encaminhei 3 podcasts sobre controle de ansiedade de uma psicóloga que eu ouço no Spotify.
Um dos membros disse: “Ele quer morrer, deixa ele”.
Na maior educação, respondi: “Não é bom falar assim com quem tem problemas de ansiedade/depressão”.
Ele fez piada da minha preocupação, me chamou de “militante” e eu respondi que ele era um “filho da puta escroto”.
Todos ficaram em choque com a minha reação. Entre risadinhas, memes e figurinhas, ainda me dei ao trabalho de explicar o óbvio: não se deve dizer pra um potencial suicida que ele pode morrer em paz, se quiser. Nem de brincadeira.
Enfim, o mundo de hoje está bem representado pelos âncoras da sátira Não Olhe Para Cima (2021) que, mesmo diante da revelação de um meteoro que vai destruir o planeta, continuam fazendo piadas para entreter o grande público da TV.
Monique, a militante que defende o óbvio porque não consegue ficar calada.
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