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Poucas pessoas se importam com a verdade

Revista de Entretenimento

Imagine só: você está com alguns amigos bebendo e debatendo sobre um assunto controverso. Você tem sua verdade e argumentos, e está pronto pra encarar oponentes.

Agora, suponhamos que eles soltem um contra-argumento incrível que arrasa com sua posição. O que você faz? Fala: “Boa, vocês estão certos!”, ou prefere dobrar a aposta?

Segundo Platão, poucos realmente se importam com a verdade, a maioria quer mesmo é vencer.

Continue a leitura para entender um pouco mais.

Dialética x Debate

Existe uma diferença filosófica entre dialética e debate. A dialética é quando duas pessoas com pontos de vista opostos discutem pra ver qual é a melhor posição.

O objetivo é saber o que é certo, e geralmente acaba com um acordo ou uma mistura das posições.

Agora, o debate é tipo um esporte: tem que ter um vencedor e um perdedor. É como outros esportes, dá pra treinar pra ser bom nisso, aprender os truques pra deixar o outro bobo ou enfraquecer os argumentos dele.

Sofistas enchendo linguiça na retórica

Se alguém chama outro de sofista, é como dizer que ele é um charlatão. Sofistas falam bonito, sabem cativar as pessoas e fazem piadas, mas não tão nem aí pra verdade.

Se você chama um político de sofista, tá querendo dizer que ele só tá interessado em ganhar votos e não tem princípios marcantes. E isso é tudo culpa de Platão!

Na Grécia antiga, os sofistas eram meio que filósofos, mas só se importavam com a arte da retórica e persuasão. Eles queriam debate, não uma busca pela verdade.

Pra piorar, ganhavam uma grana ensinando como vencer debates. Eles treinavam aspirantes a políticos, jovens da elite ou qualquer um disposto a pagar pra aprender como deixar o oponente no chinelo.

Ensinavam a conquistar a multidão e a ter confiança no palco.

Poderes erísticos e a falsa verdade

Retórica e Debate são coisas bem diferentes: amigos conversando para encontrar a verdade numa mesa de bar.

Os sofistas não são só mestres da retórica, mas também dos poderes erísticos.

Erístico é o jeito que uma pessoa usa todos os truques possíveis pra ganhar um debate. É tratar o debate como um esporte, não uma busca filosófica.

Vamos citar três exemplos:

Falsos dilemas

Pra encurralar o oponente, eles apresentam só duas opções como se fossem as únicas possíveis. Tipo: “Ou aumentamos drasticamente os gastos com escolas, ou nossas crianças estarão destinadas ao fracasso” num debate sobre mudança climática. Pensa só, tudo fica preto no branco, sem nuances nem meio-termo.

Ataques pessoais

Às vezes até é válido criticar alguém, mas muitas vezes é só pra distrair ou desqualificar os argumentos do oponente. E é um jeito fácil de arrancar risadas. Tipo, num debate sobre economia, soltar um: “Eu não levo conselho econômico de alguém que compra terno no Walmart”.

Má orientação

É quando fazem uma pergunta complicada ou apresentam um bom argumento e a resposta não está relacionada. Imagina um político questionado sobre queda nos resultados escolares respondendo: “Investimos mais em escolas e contratamos mais professores”. Não responde a pergunta.

Noite de Debates: a Era do Show

A questão do sofisma tá ganhando mais importância nessa era de mídia social, vídeos online e podcasts. Olha só, em junho desse ano, Joe Rogan ofereceu $100.000 pra um cientista de vacinas debater com um famoso negacionista de vacinas no podcast dele.

O cientista recusou, aí as redes sociais foram à loucura, dizendo que ele estava sendo covarde ou inseguro. Mas talvez ele só concorde com Platão.

Quando você tem um podcast com milhões de ouvintes, a verdade nem é prioridade, é o entretenimento. Aí o sofista talentoso como o Robert F. Kennedy Jr. se dá bem, porque sabe todos os truques possíveis.

Ele desvia, enrola, escapa dos fatos e da ciência, e a audiência sai de lá sem nem ficar mais sábia. Pouca gente se importa de verdade com a verdade, o importante é o espetáculo!


Por Monique Gomes, jornalista, cinéfila e livre de glúten