Se você assistiu ou pretende assistir a Mank (Netflix, 2020), filme que recebeu 10 indicações ao Oscar 2021, deve ter ficado com algumas dúvidas.
Afinal, quem foi Mank? Quem foi Orson Welles? Que barraco aconteceu entre eles na vida real?
Continue a leitura para conhecer os bastidores do filme escrito por Jack Fincher e dirigido por David Fincher.
Quem foi Mank?
Um homem incompreendido e esquecido em seu tempo que passou para o cânone mitológico das figuras excêntricas clássicas de Hollywood. Um jornalista e crítico de drama que ganhou fama escrevendo e consertando roteiros dos outros.
Alcoólatra, nunca permitiu que a bebida ou o vício do jogo atrapalhasse seu talento literário. Seus trabalhos contribuíram para o sucesso de alguns dos maiores filmes da época, como: O Mágico de Oz, Orgulho dos Yankees e Cidadão Kane — uma obra-prima cinematográfica.
Quem foi Orson Welles?
Welles levou o rádio em uma direção mais ambiciosa com seu “Theatre on the Air”, na qual adaptava Shakespeare, Dickens, “Drácula”e dezenas de outras propriedades literárias. Na noite antes do Halloween de 1938, ele e sua equipe criaram o programa mais notório da história: “A Guerra dos Mundos”.
Nele, o repórter descrevia criaturas com tentáculos saindo de uma nave espacial acidentada. O relato foi tão real que convenceu os ouvintes de que a cidade estava sendo invadida por marcianos. Por alguns dias, parecia que Welles seria punido.
Só que aconteceu o contrário: com apenas 24 anos, ele foi convidado a fazer um filme na grande Hollywood do jeito que quisesse, com a equipe que escolhesse. Daí nasceu a parceria com Mank que resultou em Cidadão Kane (1941).
Por que Cidadão Kane é uma obra-prima?
Se você já assistiu a um filme da década de 30, sabe que, naquela época, a câmera fica parada em algum lugar. Os filmes eram mudos, pois não se sabiam como usar o som.
Além disso, as fotografias eram quase todas iguais. Foram filmados na mesma altura, mesma distância dos atores, movimentos mínimos de câmera e, em grande parte, sem a menor criatividade na iluminação.
Orson Welles, por outro lado, fez uso liberal de tomadas de ângulo baixo, tomadas de rastreamento e fotografias de alto contraste em Cidadão Kane. Ou seja, demonstrou que a cinematografia e a edição são fundamentais para estabelecer o tom e o clima.
Existem outras coisas notáveis sobre Cidadão Kane. Tem uma narrativa não linear, fato que causou muita estranheza nos espectadores. Resumindo: uma verdadeira inovação, uma obra totalmente à frente de seu tempo.
Conexão: Mank e Cidadão Kane
É provável chegar ao fim de Mank e se perguntar: “O que foi aquilo?” O filme é denso com referências a várias rixas da vida real, argumentos críticos de longa duração e, acima de tudo, as alianças e lealdades políticas que fizeram parte das primeiras décadas de Hollywood.
Mank é a história de um escritor que percebe que seu negócio está sendo distorcido pelos poderosos para fins terríveis. E ele decide se vingar escrevendo o roteiro sobre o poderoso magnata da mídia William Randolph Heast, a quem ele uma vez viu como seu amigo.
Outra polêmica é o fato de que Mank exigiu que seu nome fosse creditado como roteirista. Com todo direito, é claro. É que houve um tempo em que nem mesmo o diretor recebia créditos por um filme — e sim a produtora. Diziam: “Filme X da MGM”, em vez de: “Filme X do diretor X”.
Mank está do lado de Mankiewicz. Ninguém contesta que ele, de fato, co-escreveu o roteiro de Citizen Kane, uma vez que Welles fez diversas mudanças no roteiro. A discussão é sobre quanto da obra-prima resultante é devido a ele e a Welles, o que eu acho extremamente desnecessário. Afinal, são dois gênios.
No geral, Mank não é um filme para todos, é para cinéfilos. Mesmo assim, ele consegue ser bom o bastante por meio das performances, trilha sonora e visuais se você estiver disposto a contemplar a Idade de Ouro de Hollywood.
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Por Monique Gomes
Empreendedora digital, copywriter,
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