Nele, o repórter descrevia criaturas com tentáculos saindo de uma nave espacial acidentada. O relato foi tão real que convenceu os ouvintes de que a cidade estava sendo invadida por marcianos. Por alguns dias, parecia que Welles seria punido.
Só que aconteceu o contrário: com apenas 24 anos, ele foi convidado a fazer um filme na grande Hollywood do jeito que quisesse, com a equipe que escolhesse. Daí nasceu a parceria com Mank que resultou em Cidadão Kane (1941).
Se você já assistiu a um filme da década de 30, sabe que, naquela época, a câmera fica parada em algum lugar. Os filmes eram mudos, pois não se sabiam como usar o som.
Além disso, as fotografias eram quase todas iguais. Foram filmados na mesma altura, mesma distância dos atores, movimentos mínimos de câmera e, em grande parte, sem a menor criatividade na iluminação.
Orson Welles, por outro lado, fez uso liberal de tomadas de ângulo baixo, tomadas de rastreamento e fotografias de alto contraste em Cidadão Kane. Ou seja, demonstrou que a cinematografia e a edição são fundamentais para estabelecer o tom e o clima.
Existem outras coisas notáveis sobre Cidadão Kane. Tem uma narrativa não linear, fato que causou muita estranheza nos espectadores. Resumindo: uma verdadeira inovação, uma obra totalmente à frente de seu tempo.
É provável chegar ao fim de Mank e se perguntar: “O que foi aquilo?” O filme é denso com referências a várias rixas da vida real, argumentos críticos de longa duração e, acima de tudo, as alianças e lealdades políticas que fizeram parte das primeiras décadas de Hollywood.
Mank é a história de um escritor que percebe que seu negócio está sendo distorcido pelos poderosos para fins terríveis. E ele decide se vingar escrevendo o roteiro sobre o poderoso magnata da mídia William Randolph Heast, a quem ele uma vez viu como seu amigo.
Outra polêmica é o fato de que Mank exigiu que seu nome fosse creditado como roteirista. Com todo direito, é claro. É que houve um tempo em que nem mesmo o diretor recebia créditos por um filme — e sim a produtora. Diziam: “Filme X da MGM”, em vez de: “Filme X do diretor X”.
Mank está do lado de Mankiewicz. Ninguém contesta que ele, de fato, co-escreveu o roteiro de Citizen Kane, uma vez que Welles fez diversas mudanças no roteiro. A discussão é sobre quanto da obra-prima resultante é devido a ele e a Welles, o que eu acho extremamente desnecessário. Afinal, são dois gênios.
No geral, Mank não é um filme para todos, é para cinéfilos. Mesmo assim, ele consegue ser bom o bastante por meio das performances, trilha sonora e visuais se você estiver disposto a contemplar a Idade de Ouro de Hollywood.
Empreendedora digital, copywriter,
analista de SEO on-page, gestora de tráfego.
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