O Preço da Verdade é uma história real?

O Preço da Verdade (2018, Netflix) é um filme dirigido por Todd Haynes, estrelando Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Pullman e outros grandes nomes do cinema. Com uma duração de 2 horas e 6 minutos, o longa conta a história real de um escândalo envolvendo irresponsabilidade, negligência intencional e corrupção que chocou o mundo.

>>> O que você vai ler aqui:

• Final Explicado: O Preço da Verdade é uma história real?
• A DuPon sabia das consequências?
• A DuPon é uma empresa real?
• O que é PFOA?
• Que doenças são causadas pelo PFOA?
• O PFOA está presente no sangue de 99% das pessoas?
• A DuPon sabia das consequências?
• Robert Bilott enfrentou a DuPont?
• A empresa distribuiu cigarros com Teflon?
• A DuPont tinha influência nas regiões do “Vale Químico”?
• A carta enviada a Joseph Kiger em O Preço da Verdade é real?

Final Explicado: O Preço da Verdade é uma história real?

O Preço da Verdade conta a história real de um advogado corporativo que se envolve em um gigantesco caso ambiental contra a DuPont, uma das maiores empresas químicas do mundo. Baseado no artigo do New York Times, “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare”, escrito por Nathaniel Rich, o filme nos leva à cidade de Parkersburg, na Virgínia Ocidental.

A água foi contaminada por um perigoso produto químico conhecido como C-8 (ou PFOA), usado na fabricação de Teflon. A trama segue o advogado Rob Bilott (Mark Ruffalo), que inicialmente trabalhava defendendo grandes corporações, mas acaba sendo abordado por Wilbur Tennant (Bill Camp), um fazendeiro local desesperado para revelar o que está acontecendo em sua terra.

Apesar de inicialmente relutante, Bilott aceita o caso e, ao longo de quase duas décadas, luta incansavelmente para expor a verdade, enfrentando oposição da própria DuPont e desafios legais e pessoais. A investigação revela uma série de conexões sombrias entre a empresa e os problemas de saúde enfrentados pelos trabalhadores e residentes locais.

Mark Ruffalo brilha ao dar vida a Bilott, trazendo paixão e autenticidade ao papel. Anne Hathaway, apesar de aparecer em poucas cenas, faz um excelente trabalho como Sarah, esposa de Bilott, e oferece uma performance emocional e convincente. Bill Camp entrega uma atuação impressionante como o fazendeiro Tennant.

As vacas morreram de verdade?

Sim. O fazendeiro Wilbur Tennant, que morava na Virgínia Ocidental, notou que o gado estava adoecendo e morrendo de maneira alarmante depois que a DuPont começou a despejar resíduos tóxicos em uma área próxima à sua propriedade.

Ele tentou alertar as autoridades locais e até mesmo a DuPont, mas foi ignorado. As vacas apresentavam sintomas de doenças graves, como comportamento agressivo, perda de peso, tumores e lesões estranhas, e muitas morreram. Tennant documentou tudo com fotos e vídeos.

A morte das vacas foi uma das principais motivações para Bilott aceitar o caso, o que deu início a uma longa batalha judicial contra a DuPont, culminando em uma investigação mais ampla que revelou a contaminação generalizada da água por PFOA e os impactos devastadores na saúde dos moradores locais.

O que é PFOA?

O PFOA, ou ácido perfluorooctanoico, ou, ainda, C8, é um químico sintético que foi bastante utilizado na indústria, especialmente na fabricação de produtos como o Teflon, aquele material famoso por ser antiaderente. Ele faz parte de um grupo de substâncias conhecidas como PFAS, que são extremamente resistentes a altas temperaturas, água, gordura e manchas.

São comumente chamadas de C8 devido à sua estrutura química, que contém uma cadeia de oito átomos de carbono.

O PFOA foi um dos segredos por trás das superfícies que não grudam, como as panelas revestidas de Teflon. O grande problema, porém, é que ele não se decompõe facilmente, nem no meio ambiente, nem no corpo humano. Por isso, é chamado de “poluente persistente”.

Quais doenças são causadas pelo C8?

Ao longo do tempo, ficou claro que o C8 estava ligado a sérios problemas de saúde, como:

1. Câncer: Estudos associaram o C8 a um aumento no risco de câncer de rim e câncer testicular.
2. Doenças do fígado: A exposição ao C8 pode afetar a função hepática, contribuindo para danos ao fígado e doenças hepáticas.
3. Colesterol elevado: O contato com o C8 tem sido ligado ao aumento dos níveis de colesterol no sangue.
4. Problemas de tireoide: O C8 pode interferir nas funções da tireoide, resultando em distúrbios hormonais e problemas metabólicos.
5. Problemas de desenvolvimento: Fetos e crianças são particularmente vulneráveis ao C-8, com riscos de malformações e atraso no desenvolvimento.
6. Pressão alta na gravidez: Mulheres expostas ao C8 têm um risco maior de desenvolver hipertensão durante a gestação, o que pode levar a complicações tanto para a mãe quanto para o bebê.

Esses problemas de saúde são causados pela capacidade do C8 de se acumular no corpo humano ao longo do tempo, já que ele é um “poluente persistente”. A substância foi gradualmente eliminada da produção em muitos países devido a essas preocupações.

As pessoas podem ser expostas ao PFOA através da água contaminada, dos alimentos, do ar ou de produtos que ainda contenham o químico. Ele já foi encontrado no sangue de muita gente ao redor do mundo, justamente por se espalhar facilmente no ambiente.

O C8 está presente no sangue de 99% das pessoas?

No final do filme está escrito que se acredita que o PFOA esteja no sangue de 99% dos humanos. Esse número vem dos EUA, no entanto, estudos ao redor do mundo também mostram que quase todo mundo tem produtos químicos da família PFAS em seu corpo .

O PFOA e outros produtos químicos PFAS estão presentes em nossos corpos porque somos expostos diariamente a eles por meio de produtos de consumo que contém PFAS (por exemplo, embalagens de alimentos, utensílios de cozinha antiaderentes, cosméticos, móveis) e por meio da exposição ambiental (incluindo água potável, ar interno e certos alimentos ).

Alguns produtos químicos PFAS, incluindo o PFOA, são bioacumulativos. Isso significa que podem se acumular no corpo humano ao longo do tempo porque são absorvidos, mas não excretados.

A DuPon sabia das consequências?

“Há 40 anos vocês sabem que o C-8 é uma bomba relógio. Vocês sabiam que a Panela Feliz era uma bomba relógio. É porque o C-8 fica no nosso corpo para sempre. Vocês não fizeram nada!” – personagem de Robert Bilott no filme O Preço da Verdade.

Sim. A DuPont é uma grande empresa americana de produtos químicos que, entre outras coisas, foi a responsável pela criação do Teflon, uma substância usada para revestir panelas antiaderentes e em vários outros produtos, como fios elétricos e revestimentos industriais.

A empresa estava ciente dos riscos associados ao uso de PFOA (C-8) desde os anos 1960, mas manteve essas informações em sigilo por décadas. Além disso, a empresa tinha evidências de que o PFOA estava ligado a sérios riscos à saúde, incluindo defeitos congênitos, doenças no fígado, câncer de rim e testicular, e outros problemas de saúde.

Ao longo dos anos, estudos internos da própria DuPont mostraram que o PFOA estava contaminando as águas próximas às suas fábricas, principalmente na Virgínia Ocidental, onde operava uma planta. Mesmo sabendo dos efeitos tóxicos, a empresa continuou a usá-lo e não tomou medidas para alertar o público ou interromper o despejo de resíduos contaminados.

Robert Bilott enfrentou a DuPont?

Na vida real, assim como no filme, Robert Bilott começou a carreira jurídica trabalhando para grandes empresas químicas, por meio do escritório de advocacia Taft Stettinius & Hollister. Sua função era orientar as corporações sobre como seguir as normas da lei Superfund, criada em 1980 para regular locais contaminados com substâncias perigosas.

Bilott tinha um relacionamento profissional com a DuPont, embora o filme exagere alguns detalhes. Por exemplo, o personagem “Phil Donnelly”, interpretado por Victor Garber, parece ser uma criação fictícia. A cena em que ele xinga Bilott com “Foda-se, caipira” também é uma invenção para dar um efeito dramático.

A empresa distribuiu cigarros com Teflon?

Por incrível que pareça, sim. Nos anos 1960, a DuPont realmente ofereceu cigarros com Teflon para alguns funcionários como parte de um experimento para testar os efeitos do PFOA, substância usada na fabricação do Teflon.

Documentos internos da empresa relatam que nove de cada dez pessoas que participaram do experimento ficaram visivelmente doentes, apresentando sintomas como calafrios, febre e tosse, algo bem próximo da chamada “gripe do Teflon”.

A DuPont tinha influência nas regiões do “Vale Químico”?

De fato, a presença da DuPont nas regiões de Ohio e Virgínia Ocidental, conhecidas como o “Vale Químico”, era tão forte que muitos moradores estavam mais preocupados com os benefícios econômicos da empresa do que com os possíveis riscos à saúde. O filme captura bem essa atmosfera de dependência econômica que muitas vezes silenciava questionamentos sobre o impacto ambiental e saúde pública.

A carta enviada a Joseph Kiger em O Preço da Verdade é real?

Sim, Joseph Kiger, um professor, e sua esposa Darlene, realmente receberam uma carta da companhia de água local, Lubeck, em 2000. Essa carta alertava sobre a presença de um “produto químico não regulamentado”, o PFOA, na água potável, embora em “baixas concentrações”.

Curioso é que a carta foi revisada pela DuPont antes de ser enviada, algo que soa alarmante. Isso deu início a uma ação coletiva e a um grande estudo epidemiológico, que mais tarde confirmou uma “ligação provável” entre o PFOA e problemas de saúde como colesterol alto, câncer de rim e câncer testicular. Mesmo assim, a DuPont continuou negando.

Devido aos riscos à saúde, o uso do PFOA foi sendo banido em vários países, incluindo os EUA, onde as regras ficaram mais rígidas para proteger tanto as pessoas quanto o meio ambiente. Houve grandes processos legais movidos contra a DuPont, que acabou sendo obrigada a pagar indenizações para milhares de pessoas prejudicadas pela contaminação.

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Por Monique Gomes

Empreendedora digital, copywriter,
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