Não pense que o caso mais recente de estupro de vulnerável em Ubajara é um crime isolado. Ele só foi descoberto porque a mãe da menina leu uma carta endereçada à amiguinha.
Quem sofre violência sexual tem medo de falar, é coagida pelo agressor e não sabe lidar com a situação a menos que seja orientada. Portanto, é provável que muitos fatos semelhantes estejam acontecendo agora.
O noticiário é um verdadeiro termômetro: temas como feminicídio e estupro estão sempre na pauta. Sabendo que isso é cada vez mais recorrente, o que pretendemos fazer pra combater o problema?
Você já parou pra pensar que essa experiência traumática que muitas meninas e meninos passam pode ser evitada com educação sexual?
Sem educação sexual, crianças e adolescentes não sabem diferenciar sexo de estupro.
Eu sei que muita gente torce o nariz quando se toca nesse assunto, mas para e pensa.
Pra te ajudar nesse exercício, visualize a construção de duas personagens.
A primeira é Letícia, 11 anos.
Letícia é fã de filmes de princesa, tem o quarto todo decorado de rosa e estuda no período da tarde.
Não sabe absolutamente nada da vida real a não ser as histórias românticas que assiste na TV.
A segunda é Eduarda, 11 anos.
Eduarda também é estudiosa e adora assistir televisão. No entanto, os pais controlam o que ela pode ver de acordo com a idade da menina.
Eles também conversam sobre vários assuntos, afinal, toda menina que está entrando na adolescência passa por diversas transformações no corpo e tem muitas dúvidas. É natural.
Durante esses diálogos, Eduarda foi ensinada que os adultos namoram, que é por meio do contato íntimo que os bebês nascem, que é errado o adulto tocar nas partes íntimas dela, e que, se isso acontecer, deve contar para a mãe ou outro adulto de confiança.
Agora, compare a realidade dessas duas meninas e responda:
quem você acha que está mais vulnerável a cair nas mãos de um estuprador?
Em Tocantins, uma menina de 2 anos que sofria constantes abusos do padrasto só se deu conta que era vítima de violência quando assistiu a uma palestra na escola sobre violência sexual. Ficou tão aflita que chamou a atenção dos participantes.
Aqui no Brasil, 1 em cada 3 casamentos termina em divórcio. Sem contar com a separação dos casais que não formalizaram a união em cartório.
Nesse cenário, muitas crianças passam a conviver com outro homem dentro de casa: o novo namorado ou padrasto.
Quem tem filho com ex companheiros sabe que nem sempre é fácil encontrar um parceiro legal e confiável.
Outro problema é que, acreditando que esse homem é íntegro, a mulher coloca a segurança do(a) filho(a) em risco sem saber.
É claro que existem muitos padrastos adoráveis e um namorado novo não é a única ameaça, mas às vezes, o próprio pai biológico, amigos da família, vizinhos, tios, primos, profissionais da área da saúde e até os vovôs.
Eu sei que o assunto é indigesto, mas enquanto a gente ficar em silêncio ou fazer protesto pra Netflix tirar o Especial do Porta dos Fundos do ar os estupradores vão continuar agindo…
Dito isso, eu proponho uma ação coletiva.
Converse com crianças e adolescentes da sua família e peça pra seus amigos fazerem o mesmo com as famílias deles.
Cada grupo de WhatsApp tem mais de 250 contatos. Se cada um se comprometer em educar uma criança, a coisa anda.
Lembra do João de Deus? As mulheres tinham medo de denunciar, mas quando a primeira revelou os abusos que sofreu, logo 320 denúncias vieram à tona.
Pense em quantos criminosos poderiam ser presos, quantas vítimas poderiam ser poupadas? Infelizmente, parece que apenas uma pequena parcela dos criminosos vão pra trás das grades, acredito que algo em torno de 3%, mas isso não é motivo pra desistir. Pelo contrário, dá mais vontade de lutar!