Pedro Páramo: Comala é uma cidade fantasma?

Pedro Páramo (2024, Netflix) é um dos marcos da literatura mexicana, escrito por Juan Rulfo, que mergulha o leitor em uma atmosfera de mistério, perda e a busca por respostas. A adaptação cinematográfica dirigida por Rodrigo Prieto traz uma interpretação visual incrível.

A história, ambientada na cidade fictícia de Comala, acompanha a jornada de Juan Preciado, um rapaz que viaja em busca do pai, Pedro Páramo, e descobre um mundo de segredos. O romance é profundamente simbólico e reflexivo.

Pedro Páramo Final Explicado

__“Mataram o seu pai.”

__“E quem matou você, mãe?”

Em Pedro Páramo, acompanhamos a jornada de Juan Preciado (Tenoch Huerta), um homem que chega à cidade desolada de Comala para realizar o último desejo da falecida mãe: conhecer o pai, Pedro Páramo. Ao chegar, Juan conhece Abundio Martínez (Noe Hernandez).

É um morador local que lhe revela algo surpreendente: ele também é filho de Pedro e foi quem acabou tirando a vida de Pedro. Para Abundio, a busca de Juan é inútil, pois Pedro já está morto e Comala é uma cidade vazia e abandonada.

Mesmo assim, antes de se despedir, ele indica a Juan que procure Eduviges Dyada (Dolores Heredia), uma mulher que talvez possa lhe oferecer ajuda. Enquanto caminha até a casa de Eduviges, Juan não encontra nenhum sinal de vida no vilarejo.

Ainda assim, chega à antiga casa de Dyada e decide entrar para descansar. Quando Eduviges o recebe, diz que já sabia da sua chegada – informação que havia sido compartilhada pela própria mãe de Juan. Ele estranha, pois a mãe está morta, mas aceita sua hospitalidade.

Ao longo da noite, Eduviges compartilha com Juan lembranças do passado de seu pai, Pedro Páramo. Ela fala da juventude de Pedro, que teve o coração partido quando a mulher amada foi forçada a deixar Comala. Já adulto, Pedro se casou com a mãe de Juan, Doloritas (Ishbel Bautista), mas o relacionamento foi marcado por tensões.

Além de Juan, Pedro teve muitos outros filhos, embora só tenha reconhecido Miguel (Santiago Colores), que morreu tragicamente após uma decepção amorosa. A história se desenrola de forma sobrenatural, explorando temas de abandono, memórias e segredos familiares.

Quem é Pedro Páramo?

Pedro Páramo é revelado como o patriarca tirânico da cidade de Comala. É dono das terras da Media Luna e, com a família, explora os habitantes locais em benefício próprio. Ele representa um líder cruel e inescrupuloso que mata pessoas inocentes por vingança.

Como prova de que os brutos também amam, Pedro teve o coração partido na juventude, quando a amada Susana foi levada embora. Mais tarde, se casou com Doloritas, mãe de Juan, mas abandonou-a e nunca reconheceu Juan como filho. Ele só reconheceu Miguel como filho.

Comala é uma cidade fantasma?

Sim, Comala é uma cidade fantasma, tanto no sentido literal quanto simbólico. Quando Juan Preciado chega a Comala para cumprir uma promessa feita à sua mãe no leito de morte, encontra apenas ruínas, uma atmosfera de tristeza e a presença de espíritos inquietos.

A cidade está povoada pelas almas daqueles que morreram em sofrimento e ficaram presos lá por causa dos pecados de Pedro Páramo, que, depois da morte de Susana (Ilse Salas) permitiu que a escassez de comida tomasse conta do vilarejo.

Eduvirges é um espírito?

Sim, Dona Eduviges é um fantasma. Quando Juan chega no povoado, ela é a primeira pessoa a lhe oferecer hospitalidade. Eduviges é, na verdade, uma das muitas almas presas em Comala, vivendo em uma espécie de purgatório, onde as vozes dos mortos ecoam pela cidade.

Durante a conversa com Juan, fica claro que ela já havia falecido, embora ele não perceba isso de imediato. Eduviges simboliza o peso das memórias e da culpa que permanecem ali, fazendo parte do ambiente sobrenatural que caracteriza a narrativa.

Quem é a mulher nua?

A mulher que se oferece para Juan é uma das moradoras que, junto com o irmão, foi condenada a vagar pelo local devido aos seus pecados e transgressões morais. Isso porque os dois cometiam incesto.

Quando se deita com ela, Juan parece afundar em um estado de morte espiritual, pois o próprio ambiente sobrenatural de Comala o suga. Em certo ponto, a mulher se dissolve em lama, indicando que Juan também está sendo puxado para a eternidade sombria da cidade.

Juan morre?

Sim. Ele se deita ao lado de outro espírito e parece falecer, se tornando parte da cidade espectral. Isso simboliza sua assimilação completa em Comala, pois ele é envolvido pelas memórias não resolvidas e pela tristeza dos habitantes da cidade.

Essa interpretação se alinha com os temas do romance de destino, morte e a natureza cíclica da vida e do sofrimento, onde a jornada de Juan se torna uma fusão com a dor de seus ancestrais e o legado fantasmagórico de seu pai, Pedro Páramo.

Por que todos odeiam Pedro Páramo?

Pedro Páramo era temido e odiado por todos em Comala devido ao seu comportamento implacável e tirânico. Como líder da cidade, ele governava com um poder absoluto, sem consideração pelos sentimentos ou pela vida das pessoas ao seu redor.

Sua brutalidade era evidente em sua manipulação das situações e das pessoas. Por exemplo, ele não hesitava em recorrer à violência para atingir seus objetivos, como quando mandou matar o pai de Susana para poder se casar com ela, embora ela não o amasse mais.

Enquanto Susana estava acamada, Pedro entrou no quarto da empregada Damiana (Mayra Batalla) e, com toda autoridade, sem precisar falar nada, a estuprou. Quando Pedro se casou com Dolores (Ishbel Bautista), ficou claro que o interesse era apenas financeiro.

Além disso, Pedro Páramo era responsável por muitos outros atos cruéis, incluindo o abandono de seus filhos e o controle absoluto sobre a cidade, o que levou a um ambiente de medo e desolação. A natureza egoísta e insensível o tornava incapaz de se importar com as pessoas.

O que Pedro Páramo faz com Susana?

Quando eram adolescentes, o amor de Pedro e Susana era genuíno, até ele se transformar num homem escroto pra carai. Anos depois, ele teve notícias do paradeiro da bonita, mandou matar o pai dela, Bartolomeu (Ari Brickman) para tomar posse da mulher.

Detalhe: Bartolomeu abusava de Susana, porque, naquela época, a mulher era tipo uma “propriedade” do homem, seja pai, irmão ou marido. Mulheres não podiam estudar, nem trabalhar, nem ter opinião própria.

Pedro estava obcecado por Susana e buscava insistentemente o amor dela, mas a relação deles se tornava cada vez mais desgastada pela dor emocional de Susana, que não conseguia superar os traumas do passado.

Quando Susana finalmente morreu, a dor e a obsessão de Pedro não desapareceram. Ele amaldiçoou Comala e todos os que ali viveram, deixando a cidade inabitável e cheia de fantasmas. A relação com Susana foi uma das principais forças destrutivas da narrativa.

Quem mata Pedro Páramo?

“Os anos se passaram e ele continuou sentado na cadeira igual a um espantalho. Ele se esqueceu do tempo e de dormir também, porque ele tinha muito medo das noites que enchiam a escuridão de fantasmas, tinha medo de se encerrar com os fantasmas dele” – Damiana.

Pedro foi morto por Abundio, um dos filhos não reconhecidos de Pedro, o primeiro fantasma que Juan encontra quando chega. Durante um flashback, vemos Abundio emocionalmente abalado, indo até Pedro Páramo para pedir ajuda financeira para enterrar a esposa.

Mas Pedro, que talvez nem soubesse que Abundio era seu filho, recusou-se a ajudá-lo. Esse momento de desespero e raiva fez com que o homem perdesse completamente o controle. Ele então atacou Damiana com uma faca, depois Pedro, esfaqueando-o até a morte.

Pedro e Damiana morrem?

Sim, Pedro e Damiana estão mortos. A confusão que eles demonstram logo após suas mortes é um reflexo da narrativa sobrenatural do filme, onde os mortos convivem com os vivos sem plena consciência de sua condição.

No caso de Damiana, ela não percebe que está morta e pergunta a Pedro se ele quer jantar. Os personagens estão em um estado intermediário, presos ao sofrimento e aos acontecimentos passados, e essa condição os impede de aceitar ou entender completamente a morte.

Para saber mais:

O realismo fantástico como o conhecemos hoje não existiria sem Pedro Páramo. Escritores como Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa beberam dessa obra. Juan Rulfo combina elementos do realismo fantástico e regionalismo, se destacando com a habilidade de contar histórias por meio de memórias e lembranças.

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Por Monique Gomes

Empreendedora digital, copywriter,
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