Assim que o casal leva Ada para casa, o filme emite a sensação constante de que o que eles estão fazendo com Ada é errado, não apenas em um sentido moral, mas cósmico. Eles estão se intrometendo em algo que não entendem, e o universo pode puni-los por isso.
A tensão cresce com o balido constante da mãe de Ada, a ovelha da qual Maria e Ingvar cruelmente tiram a filhote quando ela é recém-nascida. Há uma cena em que o casal está assistindo TV enquanto a ovelha bale desesperadamente lá fora.
“O que ele disse?”, Maria diz em um ponto, sobre um dos personagens do programa. “Não sei”, responde Ingvar. “Não percebi. Algo sobre contos populares, eu acho.” Ou seja, esta é uma história claramente enraizada em contos populares, mas quando a TV diz algo sobre o tema, a mensagem é ignorada por eles.
O filme deixa implícito que a perda da filha afetou o relacionamento deles e gerou um vazio emocional insuportável. Quando Ada nasce com aparência híbrida de cordeiro e humano, Maria e Ingvar veem nela uma oportunidade de encontrar sentido em suas vidas novamente.
Ao decidir cuidar de Ada como filha, eles demonstram até onde estão dispostos a ir para fugir da dor e reconstruir um sentimento de família. Ada representa uma chance de recomeçar, e essa “adoção” não convencional reflete o desejo desesperado de superar o trauma.
Maria vê a ovelha como uma ameaça ao vínculo que está construindo com Ada, por isso atira nela sem dó, nem piedade. A mãezinha de Ada, uma ovelha que se aproxima frequentemente da janela do quarto da filhote, representa Maria em forma animal. A ovelha perdeu seu filhote, sabe exatamente onde ele está, mas não consegue recuperá-lo.
Suas visitas insistentes ao quarto de Ada refletem a tristeza de Maria pela filha perdida; aquilo que se perde parece inalcançável. Quando Ada foge e é encontrada nos campos, exposta ao frio em sua pele humana, Maria decide matar a ovelha-mãe. A distinção entre a mãe humana e a mãe animal é irrelevante – a dor e o instinto são os mesmos.
Pétur (Björn Hlynur Haraldsson), irmão de Ingvar, não aparece com frequência na vida do casal, mas resolveu fazer uma visita porque certamente estava encrencado – ele é expulso do porta-malas de um carro na estrada. No passado, ele viveu um romance com Maria.
O homem vê Ada como algo antinatural e ameaçador ao equilíbrio da fazenda e ao próprio bem-estar de Maria e Ingvar. Certa vez, ele levou a ovelhinha para longe, tentou matá-la com um rifle, mas desistiu porque cedeu aos encantos do animal, que é fofinho demais.
É o “Homem Carneiro” — uma figura meio-humana e meio-carneiro, assim como Ada. Ele representa uma força misteriosa e implacável da natureza que reivindica o que lhe pertence, ou seja, a filha roubada. A natureza é silenciosa e paciente, mas implacável quando invadida.
O Homem Carneiro, pai biológico de Ada. A cena destaca a natureza selvagem e ameaçadora do personagem, estabelecendo ainda mais a tensão entre natureza e vingança, uma vez que Ada foi roubada e a ovelha mãe assassinada.
O Homem Carneiro atira em Ingvar com um rifle de caça e o mata. Esse momento é uma virada dramática na trama, pois revela a força e o desejo do Carneiro de recuperar Ada, a filha biológica, e estabelecer sua presença de forma definitiva.
Ele mata Ingvar como uma forma de punição e vingança, representando a ira da natureza contra aqueles que transgridem seus limites. Embora o casal trate Ada com carinho, o ato de roubá-la é visto como uma violação dos direitos da natureza.
Após a morte de Ingvar, Maria encontra o corpo do marido e, em um momento de lamento, aceita silenciosamente o que aconteceu. Ela entende que sua dor é um reflexo da realidade e de uma espécie de justiça cósmica.
No entanto, a morte de Ingvar e a partida de Ada para viver com a criatura, embora trágicas, sugerem que a dor de Maria é uma lição, e que um novo capítulo em sua vida pode começar. O filme termina com o ciclo doloroso da natureza que, finalmente, recupera o que é seu.
Esse ato violento simboliza as consequências de ignorar ou desrespeitar as forças naturais e os seres que delas fazem parte. No final, Maria se vê forçada a aceitar a perda de Ingvar e de Ada, reconhecendo o custo de se apropriar de algo que nunca foi realmente deles.
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Informação | Detalhes Técnicos |
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Filme: | Lamb Ano: 2023 |
Título Original: | Dýrið |
Diretor: | Valdimar Jóhannsson |
Gênero: | Terror, Drama, Fantasia |
Avaliação IMDB: | 6.3 |
Classificação etária: | 16 |
Duração: | 1h 46min |
Elenco: | Noomi Rapace, Hilmir Snær Guðnason, Björn Hlynur Haraldsson, Ingvar E. Sigurðsson, Ester Bibi, Sigurður Elvar Viðarson, Theodór Ingi Ólafsson, Arnþruður Dögg Sigurðardóttir, Gunnar Þor Karlsson, Lára Björk Hall. |
Onde assistir: | MUBI |
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