Meu cachorro Panda foi veementemente proibido de fazer xixi em uma determinada árvore. O rapaz alegou que poderia trazer mal cheiro para sua casa (a árvore fica na rua, logo depois da calçada, a uns 20 metros da porta principal da casa).
Agindo como um perfeito garanhão (virgem) no cio, Panda costuma fazer gotículas de xixi em locais onde provavelmente outro cachorro também fez. É pra marcar o território. E são muitos os territórios. Ele não descarrega todo o estoque de xixi em um mesmo lugar porque isto significa um enorme desperdício. É preciso carimbar o maior número possível de lugares para garantir o seu legado diário – um ritual que exige paciência de quem está segurando a guia.
Diante desse impedimento, passei a me perguntar que espécie de ser humano proibe um animalzinho de fazer xixi numa árvore. Quem já criou bicho sabe o quanto é irresistível para o cachorro passar por uma planta, um poste ou pneu de carro e dar uma cheiradinha pra ver se vale a pena o investimento.
Pra não guardar mágoa da pessoa, acionei um flashback para visualizar seres humanos piores que esse. Lembrei que houve uma época em que era divertido ver dois homens lutando até a morte. Dá pra entender o nível hardcore de crueldade de uma multidão inteira que se diverte com a agonia dos outros? Não, não dá.
Houve também um tempo em que negros eram expostos como animais enjaulados e havia quem pagasse ingresso para observá-los. Desprezível.
Houve ainda alguém que fizesse todo mundo acreditar que deveria existir um padrão de raça pura e que todas as pessoas diferentes desse padrão deveriam morrer.
É, existe crueldade pior que barrar o xixi de um cachorrinho – mas ser assim não faz dele uma pessoa com quem eu gostaria de bater um papo enquanto tomo uma caipirinha numa sexta-feira.